domingo, 4 de novembro de 2007

porque o que vem é melhor

“Um brinde ao que passou, porque o que vem é melhor. Sua frase favorita me sai de repente e aconchega. Uso-a como se fosse minha. Talvez seja. Nossos olhos são os mesmos, deve ter mais coisas que também são. O gosto pelo agridoce e a capacidade de incendiar de risos um espaço com gentes, certamente. E embora eu saiba que possuir esse dom tem um preço amargo, não reclamo. Uma certa melancolia é até bom para cozinhar.”
(papel manteiga para embrulhar segredos)

Amo mesmo. Não vejo porque não confessa-lo.
Hoje não tenho medo nem da solidão, nem da morte, nem da dor. Digo hoje porque esse é um depoimento muito sério para proferi-lo para todos os dias que me restam, prefiro ponderar cotidianamente minha disposição. Todavia, não desejo a morte ou o sofrimento desnecessário. Quanto à solidão... a gente tem se dado bem!

Depois de um longo tempo, vou cozinhar. Vou cozinhar porque amo e quero viver de amor. Vou cozinhar para saudar o que passou.

Papel Manteiga para Embrulhar Segredos, de Cristiane Lisboa, foi o melhor livro que li esse ano. Nota-se pela quantidade de vezes que já o citei aqui! E olha que esse foi um ano de uma safra extraordinária de leitura. É forte e feminino. Não como “Maria, Maria” do Milton Nascimento, por exemplo. Aquela mulher desgraçada que sofre tanto que nem “vive, apenas agüenta”. Chega dá pena de ser mulher! Não, não. Antônia, a protagonista, é forte e feminina, ao mesmo tempo livre e pulsante. E tem “graça”, “gana”, “raça” e “sonho” sem os imperativos.
Adoro ser mulher. E não gosto nem um pouco da crença amplamente difundida que mulheres sofrem melhor. Conversa da mentalidade patriarcal! Como Antônia, entendo que sexo é político, mas não preciso fingir que não tenho esse sentimento de servir sabor a quem eu amo. E sofro deveras quando isso não me é permitido.

Mas já chorei as lágrimas necessárias. Por isso hoje estou cozinhando, porque me recuso a negar sabor a outros amores.

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