terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A incomensurabilidade da dor

"Jó também, como nós, atravessou o deserto para reconquistar a vida, em um nível mais alto, em uma redenção absolutamente materialista que significa a alegria de revolucionar o mundo”.
(Negri, Antônio. Jó, a força de um escravo)

É paradoxal, mas o pior e o melhor de ser gente, e não deus, é a dor. É sem sentido, dói indescritivelmente (porque, de fato, num tem palavra pra descrever o que ela seja) e é inevitável. Não adianta beber, comer, gritar, dançar, dormir, brigar, se aborrecer, fugir, dissimular... nem morrer adianta! É bem verdade que dá pra viver anestesiado, muita gente vive assim, mas a dor fica lá, na espreita que o analgésico dê uma trégua. Não adianta blasfemar, meu amigo.
Não sei se anjo sente dor, mas eu que nunca fui anja, digo: é a dor que faz o homem (e a mulher, claro!). Mas que isso seja bem entendido, porque sofrer é odioso. A dor, ela é amável. Cruel e amável.
Quando, no meio da madrugada, a gente se depara com aquela dor de existir (e cada um sabe bem a dor da sua própria existência), não há nada a fazer, o melhor é render-se e reverenciar a vida. E tornar-se humano.
A dor humaniza, o sofrimento embrutece.

domingo, 13 de janeiro de 2008

“Mais tarde, naquele dia, pus-me a pensar nas relações. Existem aquelas que nos abrem a algo de novo e exótico; aquelas que são antigas e familiares; aquelas que nos trazem muitas questões; aquelas que nos levam a lugares inesperados; aquelas que nos levam para longe do começo; e aquelas que nos trazem de volta. Mas a relação mais empolgante, desafiadora e significativa é aquela que temos conosco mesmos. E, se encontrarmos alguém que ame o "eu" que nós amamos... (...) bom, é simplesmente fabuloso.”
(do último episódio de Sex and the City)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

ainda sobre os caminhos

Tem um poema do Mário Quintana que diz:

Era um caminho que de tão velho, minha filha,
já nem mais sabia aonde ia...
Era um caminho
velhinho,
perdido...
Não havia traços
de passos no dia
em que por acaso o descobri:
pedras e urzes iam cobrindo tudo.
O caminho agonizava, morria
sozinho...
Eu vi...
Porque são os passos que fazem os caminhos!

Pois é! São os passos que fazem os caminhos...
Só que às vezes, acontece da gente se acostumar a pegar sempre o mesmo caminho. Por toda a vida, não importando para onde se queira ir, vai-se sempre pelo mesmo lugar, faz-se sempre aquele caminho, conhecido e viciado. Mas um dia, simplesmente, a gente olha ao redor e vê a presença doce de um caminho velhinho, esquecido.
Foi assim que um dia desses descobri, maravilhada, que podia caminhar por outras partes...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Frida Kahlo

[Mas Frida não chora, nem reclama. Em vez de chorar, ela pinta quadros que choram por ela.]

Winter, Jonah (ilustração: Ana Juan). Frida. São Paulo: Cosac Naif, 2004.
(clique na imagem para ver maior)