terça-feira, 7 de julho de 2015

Escritas

"Minha imaginação é alérgica a julho"
(Alex Epstein)


Escrever nunca fora tão desafiador. Queria adorar o deus desconhecido, mas sentia-se débil e vacilante, como se lhe faltasse presente, presença; a escritura mesma lhe faltava. Ficava ali, na sua tolice, tentando alcançar um texto que nunca está lá, que desde sempre já escapou.  num sentido heideggeriano. Suspirou. Perguntava a si mesma sobre o gênero do verbo abismar-se. Não conseguia decidir-se. Muitos verbos reflexivos!

domingo, 28 de junho de 2015

“Seus olhos abertos e diamantes. Nos telhados os pardais secos. ‘Eu vos amo, pessoas’, era frase impossível. A humanidade lhe era como morte eterna que no entanto não tivesse o alívio de enfim morrer. Nada, nada morria na tarde enxuta, nada apodrecia. (...) Nada jamais fora tão acordado como seu corpo sem transpiração e seus olhos-diamantes, e de vibração parada. E Deus? Não. Nem mesmo a angústia. O peito vazio, sem contração. Não havia grito.”
(Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres – Clarice Lispector)



Ela sentia sede, mas não bebia água. Não conseguia. Era tão abissal o que tinha de fundo, que não havia água no planeta que pudesse preenchê-la, como na letra de uma canção. Há anos era assim, sedenta. E levava no peito o silêncio fúnebre, as palavras mudas. A sede infinita.