quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Surpresas do Coração

Journeys end in lovers meeting,
Every wise man's son doth know

(Shakespeare)

Eu amo filmes de viagens. Histórias de viagens são histórias de transformação pessoal, o protagonista se desloca objetivamente no espaço, mas também muda de lugar dentro de si mesmo.

Ultimamente, tenho pensado bastante sobre isso, sobre o lugar que um ocupa dentro de si mesmo.

Nas histórias, a viagem é só uma metáfora, o que está mesmo em questão é: como é possível tornar-se o que se é? Veja que a questão não é o que se é, mas como tornar-se. A resposta ao “o que?” ergue um limite e enrijece o sujeito, e foi, justamente, o que o obrigou a partir. Podem reparar, ainda que o protagonista não tenha consciência disso, são as perturbações causadas pelo limite do que se é aquilo o impele a iniciar uma jornada.

Já a resposta ao “como tornar-se?” é perturbadora, e ao mesmo tempo, aberta e tolerante. Ela implica um dissolver-se, ou melhor, um esburacar-se.

Nesse ponto, talvez seja necessário fazer uma distinção, estou falando de histórias de viagens, não de viagens propriamente ditas. Porque é claro que alguém pode viajar e voltar igualzinho, pode viajar e tornar-se ainda mais enrijecido. Isso acontece quando só o que muda é a geografia, o sujeito, todavia, continuou ancorado dentro de si.

Como eu dizia, então, o protagonista tem de esburacar-se. E os buraquinhos que ele se vai cavucando, o permitem encontrar o desconhecido. Esse é um processo assustador e doloroso, não se engane, mas é ali, quando o sujeito enfrenta o medo e a dor, que começa sua jornada.

E as surpresas do coração?

Ah, elas são a recompensa!

Nenhum comentário: