sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Mar Absoluto

(Ilha do Mosqueiro-PA)

(...) Então, é comigo que falam,
sou eu que devo ir.
Porque não há ninguém,
tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos.

(...)
Meu sangue entende-se com essas vozes poderosas.
A solidez da terra, monótona,
parece-mos fraca ilusão.
Queremos a ilusão grande do mar,
multiplicada em suas malhas de perigo.

Queremos a sua solidão robusta,
uma solidão para todos os lados,
uma ausência humana que se opõe ao mesquinho formigar do mundo,
e faz o tempo inteiriço, livre das lutas de cada dia.

O alento heróico do mar tem seu pólo secreto,
que os homens sentem, seduzidos e medrosos.

O mar é só mar, desprovido de apegos,
matando-se e recuperando-se, correndo como um touro azul por sua própria sombra,
e arremetendo com bravura contra si mesmo,
por si mesmo vencido.
É o seu grande exercício.

Não precisa de destino fixo na terra.
ele que, ao mesmo tempo,
é o dançarino e a sua dança.


(...) Aceita-me apenas convertida em sua natureza:
plástica, fluida, disponível,
igual a ele, em constante solilóquio,
sem exigências de princípio e fim,
desprendida de terra e céu.

E eu, que viera cautelosa,
por procurar gente passada,
suspeito que me enganei,
que há outras ordens, que não foram ouvidas;
que uma outra boca falava: não somente a de antigos mortos,
e o mar a que me mandam não é apenas este mar. (...)
(Cecília Meireles)

P.S.: A foto de Mosqueiro eu roubei da Cyndi

Um comentário:

Unknown disse...

sóóó queeeee..... não é mar, mas tu bem, pq tem maré e tudo. eu dizia que era "riré", eu acho que pafrece coisa de rir...