domingo, 28 de julho de 2013

Instruções para a vida

Não sei onde eu li essa pergunta: se a sua vida fosse um romance, que autor a teria escrito?
Sei que nem precisei pensar muito, a minha teria sido escrita pelo Gabriel Garcia Marquez. Qualquer dia eu conto alguns episódios macondianos da minha história como a simpatia da faca virgem na bananeira que a minha avó fez na véspera do dia de Sto. Antônio, ou como a bisa morreu desalentada de paixão pela morte do biso, que diz-que era um judeu de barba e sobrancelha loura quase branca que fazia regatão pela Amazônia e tinha uma mulher em cada cidade que visitava, ou o grande olho azul que as vezes pisca pra mim no céu (já aconteceu quando eu estava careta, sim!)...
Bom, o fato é que desde então, tendo tomado consciência do gênero literário que me narra, me sinto bem mais a vontade na existência. O que não quer dizer que esteja fácil.
Daí, que o Neil Gaiman tem um poema chamado “instructions”*, que são instruções caso você se encontre de repente em um conto de fadas, sobre o qual eu tenho meditado essa últimas semanas e que me tem sido de grande valia.

“Toque a porta de madeira na parede que você nunca viu,

diga “por favor” antes de abrir a tranca,
atravesse,
desça pela trilha.
Um duende de metal vermelho está pendurado
na porta pintada de verde da entrada,
como uma aldrava;
não o toque; ele morderá seus dedos.
Ande pela casa.
Nada pegue.
Nada coma.
No entanto,
Se alguma criatura disser que tem fome,
alimente-a.
Se disser que está suja,
limpe-a.
Se chorar dizendo que dói,
se puder,
alivie sua dor.”
(...)
Da clareira detrás do castelo, os doze meses circundam o fogo, esquentam os pés, trocam histórias.
Se você for educado, talvez, eles lhe façam favores.
Você poderá colher morangos em plena neve de dezembro.
Confie nos lobos, mas não diga a eles aonde você está indo. [Esse verso eu acho
particularmente válido para a vida!]
(...)
Lembre-se:
gigantes têm sono muito profundo,
feiticeiras são com frequência, traídas pelo próprio apetite;
dragões têm um ponto fraco,
em algum lugar, sempre;
corações podem ficar bem escondidos,
e você os trai com a sua língua.
(...)
Lembre-se do seu nome.
Não perca a esperança – o que você busca será encontrado.
Acredite em fantasmas.
Acredite que aqueles que você ajudou vão ajuda-lo de volta.
Acredite em sonhos.
Acredite no seu coração e acredite na sua história.
Quando voltar, percorra o mesmo caminho.
Favores serão retribuídos, dívidas serão sanadas.
Não esqueça de ser educado.
Não olhe para trás.
Voe com a águia da sabedoria
(você não vai cair)
Mergulhe com o peixe de prata
(você não vai se afogar)
Galope com o lobo cinzento
(segure firme em seu pelo)
‘Há um verme no coração da torre;
é por isso que ela não se manterá em pé.’(...)

*ele foi recentemente lançado no Brasil pela Rocco, traduzido pela Elvira Vigna.

Um comentário:

Tali Lobato disse...

hahahahahahaha eu lembro da história do olho no céu!
bizarro, muito bizarrão!