“Seus olhos abertos e
diamantes. Nos telhados os pardais secos. ‘Eu vos amo, pessoas’, era frase
impossível. A humanidade lhe era como morte eterna que no entanto não tivesse o
alívio de enfim morrer. Nada, nada morria na tarde enxuta, nada apodrecia. (...)
Nada jamais fora tão acordado como seu corpo sem transpiração e seus
olhos-diamantes, e de vibração parada. E Deus? Não. Nem mesmo a angústia. O
peito vazio, sem contração. Não havia grito.”
(Uma aprendizagem ou o
livro dos prazeres – Clarice Lispector)
Ela sentia sede, mas não bebia água. Não conseguia. Era tão
abissal o que tinha de fundo, que não havia água no planeta que pudesse
preenchê-la, como na letra de uma canção. Há anos era assim, sedenta. E levava
no peito o silêncio fúnebre, as palavras mudas. A sede infinita.
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