Journeys end in lovers meeting,
Every wise man's son doth know
(Shakespeare)
Eu amo filmes de viagens. Histórias de viagens são histórias de transformação pessoal, o protagonista se desloca objetivamente no espaço, mas também muda de lugar dentro de si mesmo.
Ultimamente, tenho pensado bastante sobre isso, sobre o lugar que um ocupa dentro de si mesmo.
Nas histórias, a viagem é só uma metáfora, o que está mesmo em questão é: como é possível tornar-se o que se é? Veja que a questão não é o que se é, mas como tornar-se. A resposta ao “o que?” ergue um limite e enrijece o sujeito, e foi, justamente, o que o obrigou a partir. Podem reparar, ainda que o protagonista não tenha consciência disso, são as perturbações causadas pelo limite do que se é aquilo o impele a iniciar uma jornada.
Já a resposta ao “como tornar-se?” é perturbadora, e ao mesmo tempo, aberta e tolerante. Ela implica um dissolver-se, ou melhor, um esburacar-se.
Nesse ponto, talvez seja necessário fazer uma distinção, estou falando de histórias de viagens, não de viagens propriamente ditas. Porque é claro que alguém pode viajar e voltar igualzinho, pode viajar e tornar-se ainda mais enrijecido. Isso acontece quando só o que muda é a geografia, o sujeito, todavia, continuou ancorado dentro de si.
Como eu dizia, então, o protagonista tem de esburacar-se. E os buraquinhos que ele se vai cavucando, o permitem encontrar o desconhecido. Esse é um processo assustador e doloroso, não se engane, mas é ali, quando o sujeito enfrenta o medo e a dor, que começa sua jornada.
E as surpresas do coração?
Ah, elas são a recompensa!
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