"Ninguém conhece as receitas da felicidade. Na hora da infelicidade de nada servirão os mais elaborados cozinhados para satisfazer alguém. E até, se em algumas a tristeza é motor do apetite, não convém que nos dias de aflição se empanturrem de comida. Na infelicidade a comida não é assimilada e cria gordura. As mais saudáveis beberagens soltam sua peçonha quando preparadas por uma mulher aflita.
Saudável costume é o jejum nos dias de desgraça.
Contudo, no meu longo exercício com frutos e verduras, com ervas e raízes, com músculos e vísceras dos variados animalejos silvestres e domésticos, descobri às vezes caminhos de consolação. São cozimentos simples e de mínimo risco. Toma-os, porém, com cautela: os melhores remédios são veneno para alguns. Mas faz a prova, tenta. Não é bom que afagues passivamente a tua infelicidade. A tristeza entope. Busca o purgante das lágrimas, não fujas ao suor, e, depois do jejum, experimenta as minhas receitas.
É confusa a minha fórmula. Verifiquei que na minha arte poucas regras se cumprem. Desconfia de mim, não cozinhes as minhas poções se te assaltar a sombra de uma dúvida. Mas lê essa tentativa falaz de feitiçaria: o esconjuro, se servir, é apenas o seu som – o que cura é o ar que as palavras exalam.” (Faciolince, Héctor A. Receitas de Amor para Mulheres Tristes. Lisboa: Editorial Presença, 1999)
Antes de qualquer coisa, quero dizer que o nome do blog foi o Héctor Abad Faciolince, que é um poeta colombiano, que inventou. Ele não foi publicado no Brasil ainda (que eu saiba). Mas o seu Tratado de Culinaria para Mujeres Tristes, foi publicado em Portugal com o título menos legal de Receitas de Amor para Mulheres Tristes.
Entendo bastante de tristeza, um pouco de cozinha. Não sou poeta; me proponho simplesmente a compartilhar pensamentos e, talvez, algumas receitas.